Conhecendo a Verifact, com Regina Acutu
Na era da digitalização, o ato de registrar é algo comum e cotidiano. Pelo tamanho, vai se perdendo em gigantescos bancos de dados, no qual apenas empresas específicas possuem o registro rápido, prático e de fácil acesso.
Nossos escritos se perdem nestes espaços, junto a um aglomerado de mídias que estão sendo criadas a cada segundo. Alguns dizem até que ele é efêmero, mas não levam em conta tamanhos dados que são apenas perdidos nesse mar dataficado da nossa existência digital.
Além da ‘perda’, os registros também são constantemente violados. Em alguns momentos, de forma inocente, produzimos remixes, criamos montagens, fazemos alinhamentos de diferentes produtos para entretenimento e criamos formas de comunicação mais leves, com efeitos visuais mais despojados. Em outras ocasiões, isso está a serviço de uma criação de vários problemas relacionados a veracidade e até conteúdos de terceiros.
É neste ponto que a Verifact, startup residente do Learning Village, surgiu como peça central para fazer o registro digital ter validade jurídica. Por conta da série de evidências digitais que podem ser encontradas em Whatsapp, vídeos no Youtube, lojas virtuais e outras redes sociais, a organização construída por Regina Acutu e Alexandre Munhoz tem como principal foco transformar estes registros em provas digitais, com os pareceres técnicos necessários.
Em entrevista, a cofundadora da startup nos contou um pouco sobre a construção desta organização, seus momentos de desenvolvimento em meio a um mercado brasileiro que não enxergava essa necessidade e até sua clareza sobre as questões que rodeavam sua vida empreendedora.
“Leitura sobre o próprio trabalho foi crucial neste momento”
Regina Acutu, cofundadora da Verifact, esteve no Top 50 LATAM mulheres em cibersegurança, no ano de 2021, foi nomeada para o Globatant Awards Woman that Build Edition 2022 e finalista do prêmio Women in Tech Awards LATAM, em 2022. A organização residente do Learning Village esteve listada no ranking 100 Startups to Watch, em 2021.
Mas isso não surgiu da noite para o dia. A CEO da Verifact conta que trabalhava com desenvolvimento de projetos de arquitetura e interiores de agências bancárias, em áreas administrativas da Caixa Econômica Federal em um primeiro momento.
Enxergando uma oportunidade, seu espírito empreendedor a levou a fundar a AOI, empresa que fazia serviços de branding, desenvolvia um planejamento detalhado dos ambientes, pensando no público-alvo, posicionamento e objetivos de terceiros.
Ao longo do seu processo produtivo, percebeu que havia várias questões jurídicas ali muito frágeis e a comprovação, de algo produzido na internet, era uma lacuna a ser preenchida. Prints, e-mails, falas e comunicações rápidas por redes sociais não eram o bastante para uma comprovação e prova digital.
“Nesse momento comecei a entender que existia uma fragilidade muito grande em certos momentos. As pessoas também traziam esses problemas e comecei a conversar com o Alexandre, meu sócio. Às vezes é muito solitário trabalhar como fundadora e as reuniões podem contribuir com o crescimento”
Ao lado de Alexandre (Cofundador e hoje CTO da Verifact), Regina passou a discutir e enxergar maneiras de achar soluções para coibir estes tipos de fraudes. Juntos, ambos conseguiram transformar isso em uma oportunidade de negócio e criaram a startup, que logo se tornou a solução diferencial de provação de registros digitais, pois é o único meio de coleta online de acordo com as leis e normas forensis.
O problema, para Regina, é que neste momento, descobriram que “o problema estava ali, mas as pessoas não pareciam prontas para entendê-lo”.
A área de comprovação digital tinha demanda, como contou a CEO da Verifact em nosso bate-papo. Problemas com nudes, comprovação de acordos, provação de questões oficiais e até questões de assédio de trabalho sempre estiveram presentes, mas suas comprovações tinham provas não protegidas e extremamente frágeis.
Verificar as informações é muito além de ter apenas algum registro. Prints de conversas, imagens e vídeos podem ter distorções. Montagens são questões muito comuns e não é apenas uma inteligência artificial que pode adulterar algo: há programas extremamente práticos para isso.
Discutimos já o quanto chegar muito cedo no mercado pode ser ruim e Regina viveu isso na pele: a luta contra o falho letramento digital sempre foi algo extremamente destacado na sua história.
A fragilidade dos registros e provas digitais enfrentou – e ainda enfrenta – uma certa resistência enorme sobre essa “praticidade dos registros”, porque eles “já existem” e ignorância sobre o assunto perpetua achando que um registro não precisa de validação.
“Desenvolvemos um produto inovador e sabíamos que era essencial. Mas nem todos estavam preparados para isso. Então começamos a construir outra parte mais crucial para o nosso produto: educar as pessoas para esse problema. Começamos a entrevistar alguns casos, para mostrar que essa questão de validação de registros digitais não funciona com apenas um print ou imagem de celular.”
Além disso, hoje, após ler o livro “Faça Acontecer”, de Sheryl Sandberg, Regina reconheceu o quanto havia algumas problemáticas de gênero inseridas neste contexto. Em alguns casos, a especialista em segurança digital destacou o quanto as perguntas eram direcionadas para o sócio, ignorando sua presença.
“Foi importante eu perceber isso e precisei alinhar algumas atribuições com ele. Eu ainda falava: ‘se eu não disser nada, vão direcionar tudo para você’. Quanto mais consciente eu fiquei, mais eu aprendi a lidar e consegui a prender a abrir o meu espaço”
Regina ressaltou o quanto Alexandre foi importante nesse momento para coordenar maneiras de blindar estas situações: “Ter a presença dele foi importante para lidarmos com tudo isso de uma maneira mais compartilhada. Nesse apoio mútuo, a fluidez continuou e a startup só se beneficiou destas novas maneiras de lidar com isso tudo.”
Como destacou que “é normal” e “todo lugar terá alguma barreira e precisamos lidar com isso”, Regina conta que apostou todas as fichas na startups e compreender estas resistências – principalmente de grupos sociais sem tanto vínculo familiar, questões geográficas, de gênero e também educacionais – foi parte do caminho, mas enxergar tudo isso com mais clareza foi algo mais fácil de lidar, mesmo que complicado.
Além disso, a CEO da Verifact destacou que a expansão foi algo crucial. Em vários momentos, com a expansão da startup, foi necessário que cada um deles estivesse em lugar diferente. Com isso, a visibilidade de Regina começou a crescer até o ponto da Verifact ser quase um sinônimo de seu próprio nome, por contas das diversas atuações e em tantas frentes que estavam inseridos.
Em 2019, a Verifact atuou com parcerias em órgãos públicos e até revistas para dar maior conscientização como as pessoas deveriam comprovar suas provas digitalmente. Mais tarde, a demanda social da pandemia, segundo Regina, potencializou todo o processo.
Antes, as validações em cartório travavam questões que poderiam acontecer apenas durante os dias úteis da semana, por exemplo. Isso já era um diferencial da empresa, que atuava 24/7.
Com a pandemia, todo o contexto digital se tornou vital para que a continuidade da nossa vida fosse possível e a demanda cresceu exponencialmente.
“Éramos a única solução disponível na internet. Conseguimos potencializar a plataforma por tantas demandas que existiram. O meio jurídico se digitalizou e obrigatoriamente, agora, muitas pessoas precisaram entender isso.”
O letramento jurídico digital então se transformou. Capacitações começaram a existir em vários momentos e o olhar para essa demanda permitiu uma maior profundidade. Para Regina, os pontos críticos e riscos digitais começaram a ter mais importância ainda por conta dos excessos problemáticos das eleições e foi muito utilizado pelo Supremo Tribunal Federal (STF) para validar questões de calúnia e violações de regras eleitorais.
Além disso, Regina conta que várias questões de conectividade foram essenciais neste momento.
“O Guilherme (Community manager do Learning Village) nos trouxe para cá e conversamos com a Century. A partir disso conseguimos chegar aos Futuros Possíveis, da Época Negócios, que foi indicado pelo próprio LV e pelo Itaú. A Match&Matters foi outro ponto importante nesse momento. Digo isso porque sempre nos ajudaram e continuam fazendo eco sobre o nosso trabalho. Sempre interessante estar neste meio, por conta das conexões e aproximações que eles nos fazem”.