Orlando Cintra: “falar de inovação oxigena as organizações”

Criado em 2019, o BR Angels é uma plataforma que reúne mais de 200 executivos e empreendedores. Além de oportunidades de investimento e mentoria, os membros da rede compartilham capital intelectual e projetos de incentivo ao cenário de empreendedorismo e inovação. Em parceria com o Learning Village, o BR Angels lançou recentemente o e-book Smart Money, que aborda dicas práticas e eficientes sobre o assunto. Na entrevista abaixo, Orlando Silva, fundador da iniciativa, comenta alguns dos principais pontos abordados no material. 

Como já diz uma máxima conhecida no mundo dos negócios, mentoria se doa, consultoria se vende. Em um cenário tão efervescente como o de startups, como encontrar gente disposta a compartilhar tempo e conhecimento de graça?

Pessoas boas, bem-intencionadas e com vontade de devolver para o sistema tudo que tiveram de positivo em suas carreiras sempre existirão. Eu acredito nisto, acredito no famoso “give back”. E, para mim, a mentoria é parte disso, funciona por isso. E há um outro motivo também: quando você ensina, você aprende. Sempre. Falar de inovação, estar com gente positiva, energia positiva, oxigena as organizações e traz muita coisa boa, portanto é algo que eleva todos envolvidos. O BR Angels é muito disso, é baseado na humildade e vontade de ajudar o ecossistema a se desenvolver e evoluir em uma base sólida, tendo a startup como ponto central.

Quais são os pontos que formam uma relação de mentoria saudável? 

A qualidade da pergunta que você faz é importante para manter a atenção do seu mentor. E como você engaja esse mentor, valorizando seu tempo ao se preparar para a reunião e tirar o máximo dela, transformando o tempo e conhecimento em resultados, é extremamente importante. Mostre para seu mentor os resultados do trabalho que ele está auxiliando, ajude a entender seu ponto de vista, seus anseios, suas dificuldades. Convide para participar dos seus sucessos. Isso fará com que a relação seja sempre muito saudável. Trate seu mentor como parte da sua equipe, não como um terceiro dispensável.

É importante ter um bom mentor antes de pensar em um investidor-anjo? Eles devem ser pessoas diferentes ou não necessariamente?

Não necessariamente. Um bom mentor pode ser seu investidor-anjo, e vice-versa. O investidor-anjo deveria ser, sim, sempre um bom mentor. Um mentor pode te ajudar a buscar bons investidores anjo? Sem dúvidas.

No e-book Smart Money, uma das dicas é não ser “fiel”, ter mais de um mentor ao mesmo tempo. Mas como estabelecer prioridades, entender que caminho seguir diante de possíveis conflitos entre diferentes mentores, por exemplo?

A ideia é diversificar, não é “trair” ninguém [risos]. Ter um ou outro mentor ou mentora, é ótimo. Mas ter 200 mentores com os quais você possa contar, como no BR Angels, imagine! As possibilidades são infinitas. Eu diria que é importante você ter board advisors próximos e em quantidades pequenas, e um volume muito maior de mentores, onde você possa lançar mão da especialidade deles de acordo com o que busca. Usar essas redes da melhor maneira não é para qualquer um, por isso sempre buscamos empreendedores fantásticos. São eles que sabem como usar essas redes. É como ter um super carro veloz, tem que saber pilotar bem.

Estamos falando de uma relação de confiança. Mas qual é a importância de colocar os termos de uma mentoria no papel? Qual é a melhor maneira de fazer isso?

Caso existam temas sensíveis e críticos sim, é sempre bom ter uma base jurídica, um NDA, algo que cubra, ainda mais se for uma relação transacional e única, com um grupo ou alguém que você não conhece. No geral, as pessoas são bem-intencionadas, mas referências são muito importantes e vale usar seu networking para verificar se as pessoas com as quais você está se relacionando são de fato essas bem-intencionadas. As chances de algo ruim acontecer diminuem drasticamente.

O que uma liderança experiente pode ganhar ao oferecer mentoria para uma startup?

Ser jovem novamente! Poder viver novamente sonhos de quando era jovem, mas agora através dos olhos de outra pessoa. Pode soar poético – e é – mas é isso. Muitos não percebem, mas é isso que apaixona e gera a paixão que muitas vezes é esquecida no CEO mais experiente. Ganha-se também conhecimento, energia, networking. Experiência em um mundo digital do qual ele ainda não faz parte. E o jovem ganha o outro lado da moeda: atalhos e erros que o CEO experiente já cometeu e que ele não precisa cometer, acesso a um networking construído por mais de 30, 40 anos, acesso a capital, experiência de vida. Ponderações e pontos de vista diferentes. Todos ganham no final.