Repensando a Educação

O desenvolvimento econômico e social no Brasil está em risco devido à ineficiência de um modelo de educação baseada em instrução.  

Caso você não saiba muito sobre educação baseada em instrução, puxe pela memória os exemplos de matérias que estudamos (tivemos aulas) mas não lembramos mais e a importância que todos dão à nota de provas e aos diplomas resultantes desse modelo. Podemos afirmar que nota de prova não é sinônimo de aprendizagem e sim de reprodução, e uma educação baseada em reprodução podia servir para um mundo mais estável e lento, mas não serve mais para um mundo dinâmico, veloz e mutável. A definição moderna de aprendizagem deveria ser:   

Mudança de comportamento frente a uma nova experiência. 

Daí a importância de criarmos novas experiências de aprendizagem, pois aprendemos de fato por associação, consistência e emoções. Nosso cérebro não diferencia realidade de ficção e sua natureza imaginativa e associativa é sedenta por estímulos sensoriais. Vou tentar esclarecer mais sobre esse ponto: 

O neurocientista David Eagleman, autor de “Incógnito” e “The Brain”, em sua palestra no TED em 2012, resgatou o conceito de umwelt, introduzido em 1909 pelo biólogo Jakob von Uexküll, que buscava uma palavra para expressar uma observação simples (mas muitas vezes esquecida) que diferentes animais no mesmo ecossistema captam diferentes sinais ambientais. Ele exemplificou que no mundo cego e surdo do carrapato, os sinais importantes são a temperatura e o odor do ácido butírico. Para o peixe-faca fantasma preto, são os campos elétricos. Para o morcego ecolocalizador, são ondas de compressão de ar. Assim, o pequeno subconjunto do mundo que um animal é capaz de detectar seria o seu umwelt. E a realidade maior (que não pode ser percebida em sua totalidade) chamou de umgebung. 

Uexküll observou que “cada organismo presumivelmente assume que seu umwelt é toda a realidade objetiva “lá fora”. 

Por que qualquer um de nós pararia para pensar que há algo mais além do que podemos sentir?” 

Eagleman exemplifica isso com o filme The Truman Show: “Truman vive em um mundo completamente construído ao seu redor por um intrépido produtor de televisão. A certa altura, um entrevistador pergunta ao produtor: “Por que você acha que Truman nunca chegou perto de descobrir a verdadeira natureza de seu mundo?” O produtor responde: “Aceitamos a realidade do mundo com o qual somos apresentados”. E então Eagleman conclui: “Aceitamos nosso umwelt e paramos por aí.” 

Eagleman nos provoca a incorporar o conceito de umwelt ao léxico público, pois ele captura nitidamente a ideia de conhecimento limitado, de informações inalcançáveis e de possibilidades inimagináveis. E constata que “Quanto mais a ciência explora esses canais ocultos, mais fica claro que nossos cérebros estão sintonizados para detectar uma fração absurdamente pequena da realidade circundante. Nosso sensorium é suficiente para sobreviver em nosso ecossistema, mas não se aproxima do quadro maior.” 

Conectando as descobertas da neurociência com a realidade de nossa educação, fica muito claro o que queria dizer Sir Ken Robinson (1950 – 2020), no TED mais assistido da História, quando afirmou que a “A Escola mata a criatividade”, sua visão traz a perfeita realidade da educação em nossa sociedade contemporânea e agora através da neurociência podemos expandir ainda mais esse conceito: “A escola limita o nosso Umwelt.” A Escola limita a nossa percepção do mundo. 

Reflita sobre o que acabou de ler… Se já somos limitados pela natureza em relação a nossa percepção da realidade circundante pelos nossos sentidos físicos, imagine agora o quanto somos ainda mais limitados por sistemas de educação criados para uma outra realidade do mundo. Os sistemas educacionais baseados em instrução são máquinas de reprodução de cópias imperfeitas de seres humanos. Prestam um desserviço à evolução humana, anulam a vocação, matam a criatividade, limitam o potencial latente de cada pessoa, e são a base para uma sociedade injusta e desigual.