“Apresentação não pode ser considerada apenas power point”, destaca Eduardo Adas
O estranho outubro frio e cinza de São Paulo teve um momento de clareza e afago caloroso para as mentes que procuram organizar suas ideias. Eduardo Adas, fundador da SOAP, esteve presente para produzir um workshop sobre apresentações no Learning Village, no dia 26.
Este encontro feito apenas para convidados teve um espaço extremamente precioso. Além de falar sobre o que se deve apresentar, Eduardo dedicou a manhã para falar sobre a comunicação e suas práticas. Essa ciência, extremamente atropelada pelo cotidiano, se torna sempre um espaço de reconforto e compreensão da nossa acelerada e complexa vida.
Por isso, em seu workshop, o especialista iniciou a atividade deixando clara duas questões fundamentais:
- Toda comunicação efetiva dará certo apenas se resolver uma dor ou um desejo;
- É necessário compreender mais o outro, muito mais do que falar de nós mesmos;
Para isso, Edu, como é carinhosamente conhecido, trouxe diferentes características para os momentos mais cruciais de uma apresentação, pensando nela, principalmente, como primeiro contato de uma conversa de negócio. Há diferentes apresentações que podem ser feitas no mundo do negócio, principalmente as explicativas/expositivas, por isso, precisamos tomar cuidado em como construí-las e reconhecer qual a profundidade deste tipo de construção.
Ao mesmo tempo, suas similaridades se sustentam. A tentativa sempre será conseguir conquistar a confiança, muito além de vender algo ou proporcionar o próprio produto. Nenhum negócio é feito a partir apenas de venda e consumo. Negócios são feitos a partir das relações interpessoais criamos com o outro. Por isso, a maior eficiência se trata em entender como o outro pode ser afetado nessa relação.
Por isso, o anseio e o desejo como pulsões que podem nos ajudar a compreender o que fazer, pensando neles como potenciais criadoras. É, a partir deste ponto, a necessidade de começar pela estratégia e isso passa pelo entendimento do contexto em que o público específico está inserido, compreendendo seus objetivos diferentes e em como seus processos podem se relacionar às soluções apresentadas nas emoções que passam a ser destacadas.
Ao mesmo tempo, este processo não é feito de bate-pronto. A estratégia precisa reconhecer a habilidade temporal. A interpretação é chave neste momento para que o público alvo consiga desenvolver a solução a partir do que lhe foi apresentado e isso exige sua capacidade de entendimento, raciocínio e desenvolvimento a partir do que foi chegado até ele.
É com esta estratégia, reconhecendo o tempo e maturação das ideias nas pessoas, que poderemos compreender os papéis de cada reunião. Uma apresentação é local de apoio para as soluções, mas os negócios podem ser feitos em “cafézinhos” e até outras reuniões que vão além da primeira apresentação.
Isso tudo se constrói na narrativa. Explicar, trazer argumentos, demonstrar, construir analogias e as diferentes práticas comunicacionais para afetar o outro são necessárias neste momento. Entender, estudar e pensar sobre isso é mais importante do que apenas um apoio visual – como um power point.
Afinal, sabemos que a parte mais importante de uma apresentação é performance. O jeito de se movimentar, posicionar, conhecimento técnico, criação da narrativa e domínio emocional adequado são extremamente importantes para que a comunicação seja feita da melhor forma. Mas, isso só acontece com uma roteirização e conteúdo extremamente alinhados com a confiança necessária nesta ação.
A complexidade da comunicação
É necessário entender a capacidade, potencia e complexidade do que é uma ação comunicacional.
Quando falamos de uma construção interpessoal, estamos colocando dois indivíduos, sujeitos deste mundo, em um ato vinculante de intersubjetividade. É o momento em que os seres em interação passam a compartilhar comunicados, que são carregados de signos, emoções, crenças e capacidade de entendimento.
Por isso, é necessário reconhecer alguns meandros comunicativos que temos na performance. Edu Adas trouxe dois pontos cruciais: a comunicação verbal e não-verbal.
As construções de uma interação na apresentação, segundo Edu, acontecem principalmente pelas impressões e processos inconscientes. Temos essa velocidade em nosso pensamento e o cuidado de tentar apreender o mundo a nossa volta de maneira acelerada. Isso muda, mas é algo que está em nossa capacidade biológica de entender o mundo.
Por isso, é necessário, além do que foi falado, reconhecer que o resultado da nossa comunicação é feito pela interpretação que o outro faz. A parte da conclusão e o que levará para a pessoa é mais percebido do que apenas entendido/racionalizado. É neste ponto, em que criamos e ensinamos algo, que mostra verdadeiramente o momento em que a afetação aconteceu.
Armadilhas em apresentações de projetos
Além da aula, Edu Adas também trouxe diversas dicas necessárias sobre o que não-fazer em apresentações de projetos. As principais podem ser reunidas em três eixos:
- Focar em você e esquecer o público. A fórmula “Quem somos, o que fazemos, cases de sucesso…” é extremamente egóica. O outro precisa concluir os seus diferenciais muito além do que é mostrado. Novamente, a interpretação é chave neste processo que é criado. A realidade, dores e desejos, são extremamente importantes para comportar e fazer com que a interpretação vá por este caminho e é dever saber como comunicar para que isso ocorra;
- Textos demais perdem credibilidade. Não há sentido em fazer apresentações visuais que necessitem de leitura. Isso, além de ser ruim, faz com que a credibilidade do projeto e da construção sejam extremamente colocadas em dúvida;
- Dados precisam ser elaborados, trazendo informações e criando conhecimento com as pessoas. As informações são apenas interpretadas perante as emoções que são ali construídas na afetação. Contextos são importantes neste momento e desdobram em interpretações direcionadas
- Reaproveitar slides. Pense na narrativa da história como uma questão única e de um ponto de vista especial, que comporte as complexidades do público-alvo e quem está disposto a fazer a performance.